A mãe da criança, de 3 anos, presa em flagrante por maus tratos, após o quadro de agressões e desidratação da criança, foi presa preventivamente na quinta-feira (6) por tentativa de homicídio, após novos desdobramentos da investigação.
O caso, que inicialmente era tratado como maus-tratos, mas surgiram elementos que indicam risco iminente à vida da vítima.
Ela havia sido presa na segunda-feira (3) após denúncias de maus tratos. Foi solicitado a prisão preventiva, mas o pedido foi indeferido pela polícia.
Após a soltura da mulher, novas provas foram colhidas, o que fez com que a delegacia representasse novamente pela prisão, dessa vez aceita pelo juiz.
Segundo a polícia, o pedido de prisão foi fundamentado, principalmente, no depoimento do médico que atendeu a criança. O profissional, explicou que a mãe não levou a criança espontaneamente ao hospital, sendo forçada por populares a buscar atendimento.
A criança estava com desidratação, desnutrição severa, múltiplos ferimentos, queimaduras e marcas nos punhos, indicando que teria sido amarrado. Ainda conforme o laudo médico, se a vítima não tivesse recebido atendimento a tempo, poderia ter morrido.
Com essas novas evidências foi entendido que o caso deveria ser tratado como tentativa de homicídio, considerando que a omissão e os maus-tratos praticados pela investigada colocaram a vida da criança em perigo extremo.
A delegada responsável pelo caso, Tatiana Zyngier, afirmou que as agressões físicas e psicológicas contra a criança não foram episódios isolados, mas sim um padrão constante de abusos, sendo que em nenhum momento, a ‘mãe’ demonstrou arrependimento ou remorso por suas atitudes.
Ainda conforme a delegada, o homicídio pode ocorrer de diferentes formas, não se limitando a atos de violência direta. “A negligência extrema, como a privação de alimento, água e atendimento médico básico, pode ser tão letal quanto outros meios de execução”, justificou.
A intervenção de populares que obrigaram a investigada a levar a criança ao hospital foi decisiva para evitar um desfecho fatal. A Polícia Civil segue investigando o caso e reforça a importância das denúncias para a proteção de vítimas vulneráveis.
Entenda o caso
Segundo o boletim de ocorrência, a Polícia Militar foi acionada por volta das 20h, após uma denúncia feita pelo Conselho Tutelar e pela equipe hospitalar. Os conselheiros relatavam que a criança apresentava marcas visíveis de maus-tratos, como hematomas e feridas por todo o corpo, incluindo a cabeça, o queixo, os braços e o abdômen.
O médico plantonista que atendeu a criança também confirmou o quadro de desnutrição e desidratação, o que fez com que a criança fosse imediatamente transferida para um hospital em Campo Grande, em razão da gravidade de seu estado.
Durante a apuração dos fatos, a mãe da criança informou à polícia que havia deixado seu filho sob os cuidados de sua sogra, em uma fazenda. Contudo, ao questionar a avó, ela entrou em contradição, negando que a criança morasse ali e relatando que presenciava a filha agredir a criança em diversas ocasiões. A avó afirmou ainda que, apesar de ter solicitado que a mãe levasse a criança ao médico, ela não tomava as providências necessárias.
A mãe da criança, ao ser ouvida pela polícia, alegou que sua irmã teria agredido o menino, amarrando-o com cadarços de tênis e utilizando um cano de água para bater nele. No entanto, a irmã negou as acusações e afirmou que quem maltratava a criança era a própria mãe, sua irmã.
Diante das informações contraditórias, a polícia conduziu as três mulheres para a delegacia de Anastácio, onde prestaram depoimentos. O Conselho Tutelar, por sua vez, ficou responsável pela guarda da criança, que segue recebendo cuidados médicos em Campo Grande.
Vizinhos denunciaram várias vezes
“Ele estava muito desnutrido. Parecia uma criança da África”, lamentou uma moradora da região ao se assustar com a aparência da criança. Outros vizinhos questionaram a avó, e ela teria dito que ele não estava querendo comer.
Moradores da região contaram que foram feitas mais de 14 denúncias. “Denunciei e nada. Depois outros moradores também denunciaram e nada. Agente de saúde foi lá, mas eles não a deixaram entrar. Ela marcou consulta para criança, mas a família não levou. Disseram que o Conselho Tutelar chegou a ir lá também, mas não fizeram nada. Porque não vieram com a polícia?”, questiona a vizinhança.
Vídeo registra agressão
Vídeo registra uma das agressões que a criança sofreu. Nas imagens, a mulher, que seria mãe da criança, bate na criança com um objeto similar a um cano de PVC.
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