Quebra do sigilo telemático de investigados por corrupção na gestão do PSDB em Terenos mostra como empreiteiros e servidores nomeados pelo prefeito Henrique Budke (PSDB) combinavam as fraudes em licitações. O esquema foi revelado pelas investigações da Operação “Velatus”, deflagrada essa semana pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção).
“Ah o Tiago de Terenos me chamou aqui, tem uma calçada pra gente fazer lá também, vamo pegando esses trem tudo”, disse o empreiteiro Sandro Bortoloto (da Angico) em conversa com outro empreiteiro, Cleberson José Chavoni Silva (Bonanza), referindo-se ao então chefe de gabinete da prefeitura (cargo de confiança do prefeito), Tiago Lopes de Oliveira.
“Sobre as calçadas lá de Terenos, quanto que vai sobrar pra passar pro Tiago? A gente tinha feito umas contas lá, quanto que vai sobrar pra gente”, questiona Sandro para Cleberson.
Os dois se referem a valores que seriam pagos de propina para o então chefe de gabinete Tiago. Já a obra para fazer calçadas teria sido fraudada, conforme o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), e também beneficiou o secretário de obras, Isaac Cardoso Bisneto (também nomeado pelo prefeito tucano), que está preso.
Conforme o MPMS, o secretário usava o nome do pai para receber as propinas. Foram obtidas planilhas e comprovantes de Pix para o pai de Isaac, que recebeu R$ 21 mil de Cleberson, R$ 2 mil de Sandro e da empresa Angico – vencedora da licitação. Todas constam na planilha denominada “Finalizado – Thiago Calçadas”.
Secretário ajudou empreiteiro amigo a vencer licitação
De acordo com mensagens extraídas do aparelho de Isaac, o secretário mostrou preocupação a Hander Grote Chaves (HG Empreiteira), que não estava conseguindo uma documentação com o Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de MS) para participar de licitação dada como certa.
“Eu to achando que ele não vai conseguir participar de uma licitação que era para ele ganhar um negócio de 280 mil, porque o CREA descobriu que teve esse aditivo, e tá cobrando de ter um atestado e ter um ART complementar disso aí”, disse Isaac.
Empecilhos para quem estava fora do esquema
As investigações apontam que Isaac também atuava de forma a dificultar a participação de empresas fora do esquema nas licitações. Para isso, contou com ajuda de um servidor de sua confiança da pasta de obras:
Servidor (não identificado pelo Gecoc) – Essa analítica, em relação à licitação, orienta assim: não deixa disposição em excel no arquivo pra baixar lá no edital que dificulta até pras empreiteiras, ai ve qual que é a empreiteira mais (ininteligível) … aí a gente manda Excel pra essas, as outras tem que fazer, se quiser. É uma ideia.
Isaac – Dificulta um pouquinho pras empresas montarem
Em outro áudio, outro homem não identificado sugere a Isaac a inversão da ordem de abertura de envelopes para evitar a inabilitação de ‘colegas’, que ainda estavam providenciando documentação para ganhar licitações direcionadas.
Licitação direcionada
“As evidências colhidas indicam que a licitação em análise foi direcionada para a empresa Angico Construtora pelo então Chefe de Gabinete, Tiago Lopes de Oliveira, em troca do pagamento de vantagens ilícitas ao servidor público”, diz trecho da investigação.
Em áudios obtidos pela investigação, poucos dias antes da dispensa de licitação para a construção das calçadas, Sandro afirma que foi chamado por Tiago para fazer calçada em Terenos.
Ainda, há mensagem de áudio em que Sandro orientou Cleberson a passar informações para outro empreiteiro investigado, Hander, descrito como “parceiro nosso daqui de Campo Grande”, sobre documentação para a licitação em que concorreriam.
Dias antes da realização de licitação para reformar posto de saúde, Sandro já dá como certa em conversa com Cleberson: “Da reforminha do postinho de saúde da ESF lá da Patagonia, que vai acabar caindo ela pra nós mesmo. Mas a gente faz ela, pula pra frente, deixa pra fazer só na hora que tiver fazendo o asfalto lá”.
São investigados os empreiteiros: Sandro José Bortoloto (Angico), Genilton da Silva Moreira (Genilton Moreira), Sansão Inácio (Sansão Inácio Rezende Eireli), Hander Luiz Corrêa Grote Chaves (HG empreiteiro) e Cleberson José Chavoni Silva (Bonanza). Tiago se enquadra tanto como servidor quanto como empreiteiro nas investigações, por também ter se favorecido de sua empresa, a D’Aço Construção e Logística.
Empreiteiros investigados somam R$ 11 milhões em contratos na gestão do PSDB em Terenos
Os empresários somam mais de R$ 11 milhões em contratos com o município, a 30 quilômetros de Campo Grande. As contratações são dos últimos quatro anos, durante a gestão municipal do PSDB.
As empresas dos investigados possuem contratos no ramo de engenharia e obras. Conforme apurado no Portal da Transparência, as contratações começaram em 2021, após posse do prefeito Henrique Wancura Budke (PSDB).
A reportagem tentou contato com o prefeito Henrique Budke (PSDB), que não atendeu as ligações nem respondeu às mensagens – todas devidamente documentadas. O espaço segue aberto para posicionamento.
Tiago também foi procurado pela reportagem, mas não respondeu aos questionamentos.
Os empreiteiros Sandro e Cleberson também foram procurados pela reportagem através de e-mail oficial cadastrado na Receita Federal – com mensagens devidamente documentadas. No entanto, não obtivemos resposta até esta publicação.
O espaço segue aberto para posicionamentos que podem ser incluídos após a publicação deste material.
*Com informações:Midiamax
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