sexta-feira , 20 de setembro de 2024
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Vizinhos denunciaram agressão a cachorro, mas violência contra criança que morreu era ‘normal’

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Família denunciou agressões para a polícia há 1 ano

(Henrique Arakaki, Midiamax)

Uma criança que chora insistentemente é tratada como caso ‘normal’ por quem ouve e se abstém de fazer alguma coisa, seja no sentido de ajudar ou até de denunciar possíveis maus-tratos, mas a cena de um cachorro sendo maltratado acaba comovendo e mobilizando uma força-tarefa para que o autor deste crime seja punido.

Se a mesma indignação com os maus-tratos ao cachorro tivesse sido aplicada no caso da menina de 2 anos que acabou morta na noite dessa quinta-feira (26), em Campo Grande, a criança talvez pudesse estar viva se recuperando do abalo emocional e das feridas deixadas no corpo pequeno e sem condições de defesa. A criança morreu após repetidas agressões feitas pelo padrasto de 25 anos preso e pela própria mãe, de 24 anos.

Choros constantes eram ouvidos da casa onde a pequena de 2 anos vivia com a mãe, padrasto e irmão, em um bairro da região norte de Campo Grande, o primeiro endereço onde a menina morou com a mãe, já que atualmente morava em outro endereço. Uma vizinha que não quis se identificar contou ao Jornal Midiamax que na semana anterior encontrou com a menina e sua mãe em um supermercado e tudo aparentava estar bem. 

Ela, inclusive, disse à reportagem nesta manhã que não sabia que a menina havia morrido e contou que ouvia o choro da criança que vinha da residência.

A mulher disse que ela e vizinhos denunciaram em maio de 2022 a mãe da menina por maus-tratos a um cachorro que a mulher deixou morrer. Na época, a mulher chegou a ser detida e levada para a Decat (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista). Depois desse episódio, a mulher se mudou para outra cidade e tempo depois retornou para a Capital.

Outro vizinho que conversou com a reportagem contou que sempre ouvia o choro da criança, mas disse que “criança chora mesmo”. E nisto nada foi feito e a menina morreu. A mulher passou a morar com a mãe, avó da criança, após ser despejada, segundo os vizinhos. 

O casal está preso pelos crimes de homicídio qualificado por motivo fútil e estupro de vulnerável. 

Família denunciou agressões há 1 ano

A família da criança já havia denunciado o padrasto e a mãe da menina pelo crime de maus-tratos há 1 ano. Tanto a mãe como o padrasto da criança estão presos.

O primeiro registro feito por maus-tratos foi no dia 31 de dezembro de 2021, pelo pai da menina, na DEPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente). Nele, o pai narra que foi casado com a mãe da criança por 3 anos, e que após a separação tinha direito a visitas livres, e toda vez que ia buscar a filha, a criança estava com hematomas.

Quando questionava a ex-mulher sobre os machucados da filha, a mulher relatava que a criança havia caído ao brincar com um gato. Toda vez que a menina ia para sua casa estava machucada e ele passou a questionar a mãe da criança insistentemente.

Os hematomas pararam de aparecer por um tempo. O pai da criança ainda disse que conversou com sua ex-sogra, que relatou que a filha estava maltratando a neta constantemente e que a menina era mal alimentada e vivia em condições insalubres.

O outro registro do boletim de ocorrência foi no dia 21 de novembro de 2022, quando a criança apareceu com a perna quebrada e com hematomas nas costas. A mãe da criança disse ao ex-marido que a filha havia caído no banheiro.

A criança chegou a ser levada para a ser ouvida por psicólogos na DEPCA, mas como tinha pouca idade não foi possível realizar escuta especializada. Na época, foi pedido exame de corpo de delito.

Jornal Midiamax tentou falar com a DEPCA para mais detalhes sobre as investigações e o que foi feito desde as denúncias da família, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.

Mãe confessou que agredia filha

Segundo o delegado Pedro Henrique, que atendeu o caso, o homem ficou em silêncio durante o depoimento e a mãe da menina confirmou que batia na filha, mas com “menos intensidade” que o marido. A mãe justificou que as agressões tinham o objetivo de ‘corrigir’ a menina. A mulher relatou que tinha medo do marido.

Ainda segundo o delegado, a criança apanhava por motivos banais. Em relação à última agressão anterior à morte da menina, o casal disse à polícia que demorou para levar a menina para a unidade de saúde em razão dos hematomas que a criança tinha no corpo e o temor dos ferimentos levantarem suspeita das agressões.

Mãe estava com a filha há 4 horas morta em casa

Segundo o relato das médicas, quando a criança chegou à unidade de saúde, ela já estava morta há pelo menos quatro horas com sinais de rigidez, com hematomas por todo o corpo e sangramento pela boca. Ainda segundo as médicas, a mãe estava estranhamente tranquila e só ficou nervosa quando foi informada que a polícia seria acionada para o local.

Em exames feitos pelas médicas na unidade de saúde, elas constataram sinais de estupro na criança. Com a chegada dos policiais, a mãe da menina negou que tivesse levado a filha até a UPA já morta, mas disse que ela e o atual marido aplicavam ‘corretivo’ na criança.

A mulher contou que a filha ficava com o padrasto enquanto ela trabalhava durante o dia, e que o marido batia na criança com socos e tapas para corrigir a menina. O padrasto da menina foi encontrado em casa pelos policiais e negou que tenha agredido a enteada naquele dia, dizendo que bateu na criança há três dias.

30 atendimentos médicos na ficha da criança

A criança já tinha em seu histórico médico o registro de 30 atendimentos feitos e, em um deles, a menina havia fraturado a tíbia. 

O pai da criança relatou que já tinha registrado dois boletins de ocorrência contra a mãe da menina por maus-tratos. Os registros dos boletins de ocorrência foram no dia 31 de dezembro de 2021 e 22 de novembro de 2022, na DEPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente). 

Por Midiamax

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